Empossados em 1988 completam 28 anos de magistratura
No dia 16 de junho de 1988 foram empossados os aprovados na IX Turma de Juízes Substitutos do Estado de Mato Grosso do Sul. Assim, tornaram-se juízes Ailton Stroppa Garcia, Abdala Abi Faraj, Aparecida Henrique Abreu, Geraldo de Almeida Santiago, José Ale Ahmad Netto, Marcelo Câmara Rasslan, Mário Eduardo Fernandes Abelha, Nélio Stábile e Vilson Bertelli.
Depois de 28 anos, Marcelo Câmara Rasslan, Vilson Bertelli e Nélio Stábile são desembargadores; José Ale Ahmad Netto e Geraldo de Almeida Santiago judicam na Capital; Ailton Stroppa Garcia, Abdala Abi Faraj, Aparecida Henrique Abreu e Mário Eduardo Fernandes Abelha se aposentaram.
Na época, o Poder Judiciário tinha poucos recursos financeiros, materiais e tecnológicos. Não existiam prédios próprios e até o Tribunal de Justiça era instalado em prédio alugado. Nem se falava em internet e a comunicação mais rápida era por meio de telefone fixo ou fax.
Atualmente, o Poder Judiciário de MS tem 54 comarcas, vários prédios próprios que privilegiam a qualidade e a economia; os processos tramitam eletronicamente, os equipamentos tecnológicos são de alta qualidade, quatro comarcas são de entrância especial, além de projetos que imprimem mais celeridade na prestação jurisdicional.
Com muitas histórias vividas e muitas lições aprendidas, esse grupo de magistrados comemorou 28 anos de serviço na magistratura sul-mato-grossense. São muitas lembranças de uma época onde o Poder Judiciário ainda estava crescendo no estado.
Mas, apesar das dificuldades enfrentadas, esse grupo de julgadores sobreveio a todos os desafios e tornou a magistratura sul-mato-grossense referência no país.
A juíza aposentada Aparecida Henrique Barbosa conta que a magistratura era o destino certo como carreira para ela e que se sente realizada com a opção profissional. “Quando olho para trás, na minha carreira, sinto uma sensação de dever cumprido”, salientou.
O Des. Marcelo Câmara Rasslan, outro a integrar a turma, lembra de como era a justiça estadual naquela época. “Computadores só existiam no TJMS, no ambiente operacional DOS, editor de texto WordStar e pouquíssimas impressoras. Nas comarcas só havia máquinas manuais e poucos juízes utilizavam máquinas elétricas próprias. Recordo-me que adquiri meu primeiro computador para utilizar no trabalho e este dispunha de um “winchester” enorme, de 4 MB, hoje insuficiente para armazenar uma fotografia de alta resolução”.
Segundo Rasslan, em 1990, na administração do Des. Milton Malulei, foram entregues um conjunto de computador e impressora para cada juiz utilizar na sala de audiências/gabinete, e outro conjunto para cada cartório. “Detalhe: sem editor de texto, que tínhamos que instalar por nossa conta (software original) ou risco (software livre ou “pirata”). Telefonemas de interesse pessoal do magistrado eram anotados em relação própria e os valores deviam ser por ele ressarcidos ao TJMS”.
Naquela época, final da década de 80 e início dos anos 90, o banco de dados do Tribunal de Justiça era em uma linguagem não reconhecida pela tecnologia atual, chamada de tecnologia moderna. A jurisprudência era acessada por um programa chamado QRT – comercializado por empresa particular, o que facilitava o trabalho dos magistrados.
O desembargador lembrou ainda da justiça eleitoral, quando as urnas eram de lona e nem se pensava em contagem de votos por meio eletrônico. Para ele, basta lembrar disso para se ter uma ideia do quanto se avançou até os dias atuais.
“Eleições de 1988. Urnas de lona. Sempre houve comentários sobre fraudes eleitorais como subtração, extravio ou preenchimento de cédulas durante a contagem, etc. Precavido, consegui que fosse instalado um gerador de energia que ficou ligado, garantindo iluminação independente daquela gerada pela concessionária, no local e durante toda a contagem dos votos. Afinal, a energia elétrica poderia cair ou alguém desligar o padrão da energia, para misturar, destruir ou furtar votos sob contagem. Tudo transcorreu na mais perfeita ordem”.
Ele lembra com carinho do início da carreira. “Após a posse, participamos de um curso rápido sobre administração de fórum, basicamente. No meu primeiro dia de efetivo exercício, em Costa Rica, simplesmente havia um júri marcado e nós o realizamos. Homicídio praticado pelo companheiro contra a companheira, que estava grávida de sete meses. Como não lembrar? Tantos anos e ainda guardamos amor pelo trabalho, procuramos desenvolvê-lo de forma segura, célere e consequente. Fizemos amizades dentro e fora da magistratura que ainda hoje permanecem, porque calcadas no afeto, no respeito e no reconhecimento mútuo como gente”.
Questionado sobre o conselho que daria aos juízes que estão iniciando na carreira, ele respondeu com toda simplicidade que não daria conselho nenhum. “O trabalho é consequência da profissão que abraçamos. Resolver, e bem, problemas alheios, exige amor e respeito. Eventuais promoções, ocorrem no devido tempo, seja pelo reconhecimento de que assim age o magistrado, seja porque a antiguidade o impõe. Além de que, muitas vezes, a vaga aberta por antiguidade é justamente aquela que quem mais merece está no topo da lista, ou o contrário. Trabalho, amor e respeito, não são conselhos. É forma de viver. Tomara que assim eu tenha agido até aqui”.