Juízes comemoram 20 anos de carreira na magistratura
César Castilho Marques, Denize de Barros Dodero, Carlos Alberto Garcete de Almeida, Ricardo Gomes Façanha, Fábio Possik Salamene, Cíntia Xavier Letteriello, Sueli Garcia, Maurício Petrauski, Marcelos Andrade Campos Silva, Paulo Henrique Pereira, Katy Braun do Prado, David de Oliveira Gomes Filho e Fauser Dualibi (in memorian). Estes são os juízes que foram empossados para distribuir justiça no dia 10 de junho de 1999, depois de serem aprovados no XVIII Concurso para o cargo de Juiz Substituto de Mato Grosso do Sul. No sábado (8), eles reuniram suas famílias e comemoraram a data. Cônjuges e filhos falaram um pouco trabalho de maridos e pais.
“Quando o Maurício passou no concurso para magistrado, tínhamos 10 anos de casados e nossas filhas estavam com seis e três anos. Estávamos estabelecidos na cidade de Maringá e vir para MS foi uma mudança impactante em nossas vidas. Apesar da realização de um sonho, não foi fácil deixar família, amigos e escola. Hoje, fazendo uma retrospectiva, esses 20 anos de caminhada na magistratura nos faz acreditar e agradecer a Deus que valeu a pena termos, em família, apoiado um sonho que era do Maurício, mas que todos nós nos empenhamos para que vivêssemos bem por cada comarca que passamos”, testemunhou Mônica, esposa de juiz Maurício Petrauski.
“Ser filha de juíza envolve muitos sentimentos, mas o principal deles é o orgulho. Claro, o orgulho da conquista do posto por si só já justificaria a escolha de tal sentimento, mas vai muito além disso. São muitas dificuldades, mudanças, incertezas e desafios enfrentados. Tudo isso em paralelo com o 2° turno de todos os dias: ser mãe. Há ainda as pessoas que, de alguma forma, são impactadas por essa profissão tão relevante e essencial, que esperam da justiça o auxílio necessário para seguirem com suas vidas de forma mais leve e justa. Tem como não sentir orgulho de ter dentro de casa uma referência tão forte também no mundo externo? Impossível. Os dias ocupados, sim, causam muita saudade. Saudade que resulta em convites inusitados quase todos os dias: “mãe, você pode faltar o trabalho hoje?”. A reposta é sempre não. Mas a gente entende. Porque, no fim do dia, o orgulho é o que realmente importa”, expressaram Thais e Gabriela, filhas da juíza Cíntia Letteriello.
Mas será que, duas décadas depois da posse, podem afirmar que a magistratura é o que pensavam? Quais foram os temores no início da carreira? Os desafios mais difíceis nesses 20 anos? O que dizer da experiência dos dias atuais?
O juiz David explica que nesses 20 anos todos mudaram e a magistratura também mudou, no geral para melhor. Ele acredita que a profissão está em constante aprimoramento, a estrutura física e as técnicas de trabalho foram melhoradas.
“A magistratura brasileira assumiu o protagonismo nas mudanças sociais nos últimos anos e esta consciência é fundamental a quem veste a toga na atualidade. A experiência adquirida favorece a otimização do trabalho e a humanização das decisões. Perdemos alguma coisa nesta caminhada, mas todo processo de lapidação deixa cicatrizes. O tempo é um mestre para todo o ser humano”, disse.
Para César Castilho, o início é sempre uma incógnita. “Satisfação, angústia, medos, certezas, vontades, mas firmezas. Orgulho de ter trilhado o caminho da melhor maneira, com a consciência tranquila de que fiz o melhor, me esforcei ao máximo para ser juiz, acima de tudo tentando ser justo”, garantiu.
David conta que no início da carreira havia temores com o próprio desempenho e que as perguntas eram: será que conseguirei ser um bom juiz? Será que a decisão mais acertada é esta mesmo? Quais são os reflexos desta minha decisão para aquelas pessoas que litigam? “Hoje, a primeira pergunta perdeu o sentido, pois 20 anos se passaram! Mas as demais questões nos assombram diariamente”, explica o juiz.
César garante que a magistratura é mais que uma profissão. “É um ministério, um propósito. Os desafios são imensos na carreira, mas aquele que se dispõe a ser um juiz e alcançar essa honra saberá desempenhar um papel digno exatamente pela imensa responsabilidade que assume”.
Ao falar sobre a data, Denize reconheceu que ainda há muito a se fazer. “Que tenhamos sabedoria para entender a que viemos e para onde vamos, sensatez na seleção de nossas batalhas e dos meios, para não nos omitirmos diante de nossas responsabilidades, como também para abandonar as lutas que não nos pertencem. Que saibamos encontrar a paz na humildade e na simplicidade dos pequenos gestos, das pequenas coisas”.
Os desafios mais difíceis na carreira, na avaliação de David, sempre estiveram ligados com crianças, adolescentes e ausência de estrutura. “Casos em que você luta contra tua própria impotência e não tem como fugir de decidir e nem das consequências da tua decisão, porque a consciência é sempre tua companheira. Ela te acompanha a cada noite de sono e a cada dia de luz”.
Decidir o destino de um menor abandonado pela mãe, ou se deve, realmente, retirar o poder familiar sobre aquelas crianças, no entender do juiz David, é muito difícil e, no passado, não havia, em cidades pequenas, psicólogos ou assistentes sociais para auxiliar e, mesmo com a ajuda deles, estes sempre foram os processos mais difíceis porque o juiz simplesmente não pode errar e não pode demorar.
“É uma angústia sem tamanho. Admiro com sinceridade todos aqueles que atuam ou atuaram nesta área”, confessou. “Na área penal as dificuldades também são enormes, porque o juiz não termina seu trabalho com a sentença. Logo depois vem a execução da sentença e a situação dos presídios todos conhecem. Os juizes sentem-se muitas vezes maestros no meio do caos, mas quando conseguem tirar uma sinfonia dali, a satisfação é indescritível”.
Ao concluir, David garante que a experiência nos dias atuais continua sendo apaixonante, pois a vida de juiz sempre reserva novidades, desafios novos e maiores. “Para quem gosta de enfrentar desafios e de superá-los como eu, é muito bom no final do dia olhar teu trabalho e pensar: consegui resolver mais um. É como se fosse alguém que arruma a casa, sofre para chegar no resultado desejado, mas quando olha aquele cômodo limpo, organizado e bonito, fica feliz. Estamos arrumando a casa para nossos filhos. Isto dá sentido à vida”.