Magistratura se reúne para discutir ética e saúde mental
Ontem e hoje (3), visando aproximar os integrantes da magistratura sul-mato-grossense e contribuir com sua qualidade de vida no ambiente de trabalho, a AMAMSUL realizou na sede campo, em parceria com a Escola Judicial (Ejud-MS), um encontro para discutir ética e saúde mental.
Para o presidente da entidade, juiz Giuliano Máximo Martins, a magistratura tende a abrir um diálogo cada vez maior para haver equilíbrio entre o trabalho, na prestação jurisdicional, e a vida pessoal, por isso os temas ecolhidos não foram jurídicos, embora muito importantes para a magistratura.
Ao abrir o evento, Giuliano destacou a satisfação de encontrar os colegas em um curso que muito interessa aos magistrados por tratar de temas atuais que os auxiliam no dia a dia e destacou a gestão diferenciada do Des. Dorival Renato Pavan, diretor-geral da Ejud.
“Isso fortalece a relação AMAMSUL/Ejud, Esmagis/Ejud, já que estas estão trabalhando para os magistrados. Essa parceria possibilita muitos cursos novos e importantes para atualização dos colegas. Com essas palavras, declaro iniciados os trabalhos”, afirmou o magistrado.
O diretor-geral de Ejud/MS, Des. Dorival Renato Pavan, apontou que pretende fortalecer a parceria entre a AMAMSUL e a Ejud/MS e afirmou que os temas das palestras, nos dois dias de trabalho, foram escolhidos justamente por não serem jurídicos. Ele aproveitou a presenta dos juízes da Capital e do interior para mostrar um pouco do trabalho desenvolvido pela Escola Judicial durante 2021.
“A Ejud/MS realizou 332 ações educacionais para formação e aperfeiçoamento de magistrados, servidores e colaboradores da justiça. Das 332 ações, 48 foram para magistrados, incluídas 13 credenciadas pela Enfam e que contam para promoção. Do total de ações participaram 7.252 discente, em 6.099 horas-aula”, relatou o diretor-geral.
Pavan aproveitou a ocasião para anunciar que está confirmada para 2022 a disponibilização de um curso de mestrado em parceria com a UFMS, strito sensu. Na área de gestão de pessoas, ele anunciou um mestrado com vagas para servidores do Poder Judiciário de MS.
“Quero agradecer a juíza Joseliza Alessandra Vanzela Turine, pois, foi em razão de sua mobilização, que conseguimos viabilizar com a UFMS esses dois mestrados e em vias de fechar a parceria, já com 38 juízes que manifestaram interesse para o curso de mestrado. São ações voltadas não para a área técnica, mas mais abrangente como os temas escolhidos para este evento”, finalizou.
Palestras – A primeira palestrante foi a professora e pesquisadora da UFPR, Lis Andréa Pereira Soboll, com o tema 'Saúde Mental', que começou apontando que o trabalho é uma desculpa da vida para aproximar as pessoas, para gerar encontros e transformar cada um, gerando um efeito muito positivo na saúde mental de cada um.
“Nesse período de pandemia, pelo fato de estarmos obrigados a um distanciamento, percebemos a falta, não necessariamente das tarefas, mas do convívio. Em muitos casos a produtividade aumentou, mas um pesquisador francês já apontou que os espaços informais no trabalho são tão relevantes quantos os formais. Fazer uma reunião tem o mesmo valor que o andamento do trabalho na busca de soluções, do uso da criatividade e, mais do que qualquer coisa, no impacto e no sentido que o trabalho pode nos trazer”, garantiu.
Para Lis Andréa, são as tarefas, as circunstâncias e os desafios colocados que trazem sentido, portanto, falar sobre saúde mental é falar sobre as relações com as pessoas que a vida confia aos seres humanos.
“Vamos tratar sobre o quanto a pandemia afetou nossa saúde mental, questões que o isolamento social levantou e o convite que nos fez, de abrirmos nossos olhos para nossos afetos. Os afetos que moram em mim e os afetos que são representados nessas pessoas do trabalho, nesse ciclo de amizades, nesses vínculos. Assim, nossa fala hoje será direcionada para descobrirmos o que a pandemia fez de mim e o que farei com isso”.
No segundo dia de trabalho, os participantes tiveram a oportunidade de ouvir Rossando Klinjey, psicólogo clínico e autor de livros. Mestre em Saúde Coletiva e doutor em Psicanálise, Rossando é conhecido internacionalmente pelas palestras e cursos de que realiza. Ele falou sobre 'Ética, Cidadania e Profissionalismo: três elementos da competência'.
Ele está acostumado a fazer palestras para integrantes da magistratura e afirmou categoricamente: a população não conhece os membros do Poder Judiciário. “ O brasileiro, de modo geral, não sabe o que vocês fazem, pensam que ganham R$ 300 mil por mês e trabalham cinco horas por semana. Existe uma mítica do servidor público da justiça, que é completamente diferente da realidade. Quando se conhece e convive, vemos o quanto vocês se dedicam a um exaustivo trabalho ”, disse Rossando.
O palestrante ressaltou ainda que ética é comportamento, algo que se constrói em casa e pode ser aprimorada no conjunto da sociedade. “Uma das coisas mais fundamentais que existe são instituições que possam garantir o funcionamento do sistema ético. Nessa orquestração institucional dos países que funcionam, no seu pacto coletivo, a justiça tem um papel fundamental”, apontou.
No entender de Rossando, quando se olha para democracias maduras, vê-se que elas têm justiça altamente funcional e efetiva, tornando o papel do Judiciário na construção e consolidação da ética é essencial. Ele destacou ainda a iniciativa do debate de tão importante tema com magistrados e magistradas em Mato Grosso do Sul.
“Acho fantástico porque primeiro mostra a necessidade clara de que a humildade, ou seja, eu tenho sempre que aprender, sempre reaprender, voltar a discutir temas relevantes. Isso mostra um Tribunal que é maduro e, ao mesmo tempo, um Tribunal que quer estar se oxigenando com os temas, que convida à pedagogia, ou seja, a própria Escola é um convite constante a um caráter pedagógico do Judiciário. Fico muito feliz porque o cidadão comum não sabe que existe isso, não sabe que os magistrados vivem passando por profundos processos de reciclagem, de aprendizado, de debate. É uma alegria estar aqui e acho é mais uma demonstração da seriedade da justiça brasileira, e especialmente no caso do Mato Grosso do Sul, que encara a necessidade de aprender sobretudo um tema tão relevante para o país”.