Semana da Paz em Casa começa com painel literário para acadêmicos
Alunos da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) acompanharam, na noite desta segunda-feira (20), a abertura da mobilização em Campo Grande da 11ª Semana Nacional da Justiça Pela Paz em Casa. Os acadêmicos participaram da exposição do Painel Literário: As Relações de Gênero nos Textos Literários, promovido pela Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar.
Presidido pela juíza Jacqueline Machado, da 3ª Vara de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher e Coordenora Estadual da Mulher, o painel contou com a exposição dos professores Carlo Fabrizio Campanile Braga e Flávio Adriano Nantes.
A exposição começou com a fala de Carlo Fabrizio, que tratou especificamente dos personagens femininos retratrados pelo dramaturgo William Shakespeare, o qual, em razão da complexidade de sua obra, foi acusado de posições preconceituosas como elitista, racista, misógeno, xenófobo e até mesmo machista.
No entanto, na avaliação do professor, a figura feminina tem relevância na obra de Shakespeare. E, para ratificar esta visão, Carlo elencou personagens como Gertudres, a mãe de Hamlet; Catarina, de A Megera Domada; Lady Macbteh, de Macbeth, entre outras mulheres.
"Elas são enaltecidas por características positivas como inteligência, sagacidade, bondade, coragem, mas, por se tratarem de figuras humanas, Shakespeare também acrescenta defeitos a elas. Mesmo assim, é um retrato a frente de seu tempo, isso porque, a figura feminina na época do dramaturgo (há 400 anos) tem papel social bastante inferiorizado", explicou.
Flávio Nantes trouxe reflexões sobre a mulher sisgênero retratada em duas obras literárias do escritor Raduan Nassar: Lavoura Arcaica e Um copo de cólera. No primeiro, o romance retrata uma tradicional família patriarcal, onde a figura do homem é soberana.
Nessa história, a personagem Ana tem uma relação incestuosa com o irmão, que, após anos fora de casa, retorna para família. Na festa de comemoração do retorno do filho, Ana é assassinada pelo próprio pai em razão da paixão entre irmãos. Na obra, o corpo discidente (que é o feminino) é eliminado.
"De Ana, não sabemos nada. Ela é silenciada, não há nenhuma manifestação dela, pois os relatos são dos homens da família. O romance data de 1974 e traz uma profunda relação com a sociedade, como a literatura, pois emerge dela, assim como a violência da cultura machista migra para o texto literário", esclareceu.
No segundo livro, o feminino, embora não seja eliminado como no primeiro livro, completa o professor, sofre violência física, psíquica e simbólica. Ele abordou o livro Amora, de Natalia Borges Polesso, que reúne 33 contos sobre diversas relações homossexuais entre mulheres, retratando personagens que existem e resistem, embora a sociedade queira invisibilizá-los.
Atividades - Dentre as diversas atividades previstas para essa semana de esforço concentrado, Jacqueline destacou a programação voltada para as mulheres que vivem na zona rural, com a entrega de cartilhas especialmente desenvolvida pela coordenadoria para este público.
"Mulheres do Campo e da Floresta, um conteúdo novo voltado para a mulher que vive longe da área urbana e que tem mais dificuldade de fazer denúncia. A semana de mobilização tem dois focos: o primeiro é voltado para a aceleração dos julgamentos de processos, principalmente os que envolvem os crimes de feminicídio, e o outro é o desenvolvimento de ações que levam para a população reflexões para a mudança de cultura", completou a juíza.